Querido filho,

Passaram-se algumas semanas desde que te anunciaste pela primeira vez mas eu escolhi a racionalidade e o nosso encontro iria demorar mais um pouco. O meu cansaço continuava e era cada vez mais extremo. Só queria dormir. Para além disso a minha menstruação estava atrasada por alguns dias e a minha pele parecia a de uma jovem adolescente em plena puberdade. Cismada como sou não quis aguardar mais para ter uma resposta.

Lembro-me de estar sentada à mesa de jantar com o teu pai e dizer-lhe que marquei uma consulta na ginecologista para o dia seguinte para perceber do que se estaria a passar. Estava convicta de que seriam alterações hormonais, fruto de ter deixado a pílula há cinco meses atrás. Contudo ainda brincamos com a situação de uma possível gravidez mas não queriamos pintar cenários sem termos a certeza.

Levantei-me no dia seguinte para a primeira consulta da manhã. Precisava de ter uma resposta, agora.

Cheguei ao consultório e expliquei os meus sintomas à medica. Ela prontamente sugeriu fazermos um teste à urina para termos a certeza antes de avançarmos com a consulta. Fiquei com um nervosismo miudinho. Seria agora? Peguei no copo e fui ao WC.

Olhei-me ao espelho e pensei “será este o início de uma nova vida?”. Procurei desesperadamente alguma resposta ou sinal mas a verdade é que já teria tido vários sinais mas insisti em pensa-los em vez de seni-los.

Devolvi a amostra à enfermeira e segui para o consultório. Estava deitada na cadeira para me preparar a ser examinada quando tocou o telefone do gabinete. A médica atendeu e eu fiquei a ouvir do outro lado da cortina. Tentei ao máximo controlar a minha ansiedade pois afinal poderia nao ser nada. Não queria criar expectativas.

” Sim?” A voz simpática da médica era muito suave. “Ai é?” questionou ela subindo a voz com um pequeno entusiasmo e agradeceu desligando o telefone.

“Tenho uma novidade para si”. Dizia ela docemente. “Siiim?” questionava eu em pulgas e com um sorriso envergonhado. “Está grávida!”.

Deixei-me cair para trás na cadeira e cobri o rosto com as minhas mãos. É isto, é este o início de uma família. Um união para sempre. Não poderia acreditar.

De seguida fui abalada por muitas dúvidas e medos. “Eu não sei nada. Eu não estou preparada. Eu não li livros, eu não fiz cursos. Eu não sei nada! “

Senti vergonha ao dizer isso. Como se tivesse sido irresponsável e engravidado por mero descuido. Vergonha por parecer que não queria esta criança. Vergonha por não estar preparada. Vergonha por mostrar dúvidas, medos e vulnerabilidade. Senti vergonha por ser humana.

A médica sorriu tentando me acalmar. “ainda tem nove meses para aprender tudo”.

Mal sabia eu que não iríamos ter nove meses e que nada nos pode preparar verdadeiramente para a chegada de um filho.

Mas tu ali continuavas, pacientemente a aguardar o meu amor.

Author

Comments are closed.