Querido filho,
Qual o custo de uma família?
Foram tantos os momentos em que cerrei os dentes em silêncio para manter a paz. Tantos momentos em que abdiquei da minha dignidade para manter a família intacta. Quando eu queria dizer não, eu não disse. Em vez disso, baixei a cabeça. Quando quis fazer valer a minha vontade, não o fiz. Em vez disso, convenci-me de que os meus desejos não eram merecedores.
Aterrorizada pela ideia de agitar as águas e ser vista como problemática, fiz todo o humanamente possível para manter o barco em curso. Remei tantas vezes sozinha com um braço apenas porque o outro estava reservado a segurar-te, proteger-te e amar-te.
Mesmo quando achava que tinha chegado ao fim da minha capacidade de remar, eu continuava.
Remava com uma convicção inabalável de quem iria conseguir fazer acontecer. De quem iria conseguir mudar o outro através do amor.
Mas a verdade, meu amor, é que o nosso amor não pode mudar ninguém. Muito menos quem não se ama sequer a si próprio. O amor, tal como a verdade, é uma jornada e descoberta que cada um tem de fazer por si e através de si.
Em qualquer situação, temos sempre três opções: ficar e aceitar as coisas como são, mudar as coisas ou ir embora. Doeu, doeu muito.
Hoje mais do que nunca, procuro a validação em mim. Não há ninguém a quem pedir permissão e ninguém para culpar. Parei de explicar demais e parei de implorar por reconhecimento.
Apenas quando realizamos que entregamos o nosso poder ao outro, podemos assumir a nossa parte e criar uma nova narrativa.
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